Alto endividamento pressiona bares e restaurantes, diz pesquisa nacional da Abrasel
Quase três em cada quatro empresas têm pagamentos em atraso, principalmente impostos. E 77% fecharam abril no prejuízo. Entidade também mediu desempenho dos governantes na pandemia – na média, os governadores são os mais mal avaliados pelos empresários
Pressionados pela queda no faturamento nos primeiros meses do ano em função do fechamento forçado na maioria dos estados, bares e restaurantes acumulam dívidas. A reabertura gradual ainda traz pouco alívio, revela pesquisa nacional da Abrasel, realizada no começo de maio em todo o Brasil.
Quase metade dos estabelecimentos ainda têm de fechar antes de 20h. Com isso, 77% trabalharam no prejuízo em abril (contra 82% em março). O resultado é o atraso nos pagamentos, com 72% apresentando dificuldades para honrar compromissos, como impostos, aluguel, água/luz/gás e débitos com fornecedores.
A parcela dos empresários com dificuldades para pagar salários ainda é alta, apesar da melhora em relação a abril: quase metade (49%) teve problemas para o pagamento do salário vencido em 5 de maio, contra 91% no mês passado.
“O quadro é grave. Quem sobrevive acumula dívidas e não tem faturamento para traçar um caminho de recuperação. As MPs trabalhistas ajudam, mas chegaram tarde. É importantíssimo destravar o crédito. A sanção pelo presidente Bolsonaro da nova rodada do Pronampe, já aprovada no Congresso, promete ser uma tábua de salvação para muitos. Mas ano passado vimos que houve muita resistência e burocracia de alguns bancos em liberar o recurso; espero que agora o processo seja mais rápido e fácil”, diz Paulo Solmucci, presidente da Abrasel.
A medida da ansiedade por crédito com taxas mais baixas e condições especiais fica evidente na pesquisa: 74% dos empreendedores (ou seja, três em cada quatro) dizem que farão um empréstimo do Pronampe quando o programa for reaberto. A grande maioria dos respondentes (88%) enquadra-se na categoria de micro ou pequena empresa.
A pesquisa também mostra desdobramentos da demora na publicação das medidas provisórias que permitem a redução de jornada ou suspensão de contrato de funcionários. Dos entrevistados, 75% dizem ter demitido funcionários nos primeiros meses do ano.
Assim, não chega à metade os que pretendem colocar empregados em redução de jornada (44%) ou pensam em aplicar a suspensão de contrato (42%) – as duas podem ser usadas de modo combinado. A medida permitida pelas MPs que tem mais adesão é o adiamento no pagamento do FGTS: 58% dizem que irão usar este recurso.
A pesquisa procurou medir também a avaliação dos governos pelos empreendedores. Na média, os governadores são os mais mal avaliados: 76% desaprovam totalmente ou em parte as ações dos governos estaduais até agora na pandemia. As prefeituras têm 66% de desaprovação. O governo federal é o único com mais aprovação do que rejeição: 50% dos empresários aprovam totalmente ou em parte, contra 42% que desaprovam e 8% neutros.
“Não nos surpreende esta má avaliação dos governadores e prefeitos, tantas foram as idas e vindas, o abre-fecha, as decisões arbitrárias e sem diálogo. Esperamos que isso melhore de agora em diante”, afirma Paulo Solmucci.